R$20 Bilhões de “inconsistências contábeis” das Americanas – irão afetar o caixa ou não? Entenda 

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A Americanas, empresa a qual possui capital aberto no Brasil desde a década de 40, informou na última quinta-feira (11) através de fato relevante o seguinte texto: 

“foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022. Numa análise preliminar, a área contábil da Companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022. A Companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial.”  

Esse comunicado ao mercado provocou a renúncia do até então CEO da empresa, Sérgio Rial e do CFO e também do diretor de relações com investidores André Covre apenas 10 dias após assumirem o cargo. 

Ao contrário do que muitos podem pensar, isso não significa que a empresa possui uma dívida de R$ 20 bilhões com instituições financeiras ou fornecedores não registrados no balanço, pois se fosse esse o caso, certamente a Americanas entraria com pedido de recuperação judicial, visto que o total de caixa e equivalentes divulgado pela empresa em 30 de setembro de 2022 somavam R$ 4.3 bilhões e não comportariam um passivo tão robusto, além do fato de não haver nenhuma execução de dívidas de instituições financeiras ou fornecedores junto às Americanas até o momento que tivesse sido divulgado em canais de comunicação.  

Contudo, isso também não quer dizer que parte destes R$ 20 bilhões de “inconsistências” não possam acarretar um desembolso de caixa futuro, mas neste momento é difícil mensurar esse impacto. 

Entenda o processo de forfait que levou aos R$ 20 bilhões 

As Americanas realizam durante o curso natural de suas atividades, operações chamadas de “Forfait” que, conforme descrito no ofício circular da CVM, são operações por meio das quais a empresa compradora contrata um banco e monta com ele um modelo de antecipação de pagamento aos seus fornecedores. Formalmente o fornecedor emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente, sendo o reflexo disso, um aumento do EBITDA.  

Por sua vez a companhia compradora não reconhece um passivo oneroso junto ao Banco, mas o passivo de “fornecedores”, seu estoque fica inflado e a margem bruta com vendas distorcida. Com isso, a companhia compradora pode distorcer sua real situação financeira. 

Neste sentido, o mercado deixa de reconhecer despesas financeiras em resultado, pois além de não reconhecer o passivo oneroso “financiamento”, não ajusta a valor presente o passivo “fornecedores”, sem a devida segregação de juros embutido na operação a ser apropriado em resultado.

As inconsistências de R$ 20 bilhões divulgadas são possivelmente relacionadas a esta operação. 

Panoramas importantes sobre o caso Americanas

Segundo o vídeo divulgado como fato relevante do Ex-CEO da Americanas Sérgio Rial em 12 de janeiro de 2023, existem 2 pontos que precisam ser destacados: 

1º – Os R$ 20 bilhões estão registrados no balanço, ou seja, trata-se de reclassificações entre contas, podendo afetar o resultado e o valor do Patrimônio Líquido da empresa. 

2º Esse efeito das “inconsistências” não seria somente decorrente do exercício de 2022, mas reflexo de exercícios anteriores, a qual afetaria diretamente o patrimônio líquido da empresa. 

Outro risco que devemos destacar está diretamente atrelado aos contratos de empréstimos com cláusulas restritivas (Covenants), que foram divulgados no relatório das Americanas do 3º trimestre de 2022 por meio do seguinte texto: 

“A companhia está sujeita a determinadas cláusulas restritivas de dívida (Debt Covenants e Cross Defoult) constantes de alguns contratos de empréstimos e financiamentos. Essas cláusulas incluem, entre outras, a manutenção de certos índices financeiros. Em 30 de setembro de 2022 e 2021 todos os índices estavam atendidos.” 

Essas reclassificações das inconsistências na casa dos R$ 20 bilhões podem afetar de maneira significativa a dívida líquida total se consideradas tais reclassificações na conta de empréstimos e financiamentos ou mesmo na conta de fornecedores, quando falamos de operações de “forfait”. Alguns contratos de empréstimos das Americanas podem conter essa cláusula restritiva atrelada a dívida líquida total e com esses possíveis efeitos das reclassificações, as cláusulas restritivas podem ser descumpridas e suas dívidas executadas no curto prazo. Isso ocasionaria um impacto relevante no fluxo de caixa das Americanas e poderia afetar seus pagamentos e continuidade operacional. 

Também no vídeo do Ex-CEO Sérgio Rial em 12 de janeiro de 2023, ele alerta aos investidores de referências que as Americanas podem ter uma limitação na linha de crédito junto às instituições financeiras e que o nível de endividamento da empresa está “acima do normal”, indicando assim possíveis fragilidades financeiras, que se agravariam caso alguma cláusula restritiva de desempenho fosse descumprida por parte das Americanas.   

Sérgio Rial também afirmou: “A empresa segue vendendo, ela é absolutamente viável. Tem um nível de dívida incompatível para que possa prosseguir, portanto a capitalização tem que ocorrer. E os acionistas de referência permanecem comprometidos com o futuro da companhia”.

Quando Rial se referiu aos acionistas de referência, estava falando do fundo 3G formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira a qual possuem 29.92% do capital social das Americanas segundo o demonstrativo de 30 de setembro de 2022. Além de investidores estrangeiros como Blackrock, Vanguard e Wells Fargo a qual figuram no “Free Float” da empresa. 

Desdobramentos após o acontecimento.  

Para apuração dos fatos e dados históricos contábeis foi efetuado um comunicado ao mercado em 12 de janeiro de 2023, informando que foi nomeado um comitê independente criado pelo Conselho de Administração para apurar as circunstâncias que ocasionaram as inconsistências em lançamentos contábeis identificadas pela Companhia. Esse comitê também será integrado por um sócio da PriceWaterhouseCoopers (PWC), empresa responsável por emitir o relatório do auditor das Americanas nos últimos anos. Cabe ressaltar que não foram informados nos relatórios públicos do auditor nenhum ajuste ou modificação oriundos dessas “inconsistências contábeis”. 

O Comitê iniciará suas análises de maneira imediata e, ao final dos trabalhos de apuração, deverá apresentar suas conclusões ao Conselho de Administração da Companhia, para que este possa deliberar quanto às medidas necessárias. Diante desse cenário não seria possível mensurar os impactos que essas reclassificações irão causar neste momento. O mercado aguarda ansiosamente pela apuração dos fatos e esclarecimentos por parte da administração e equipe de auditoria. Aguardemos os próximos passos! 

Situações como estas podem ser evitadas  

Empresas que possuem capital aberto obrigatoriamente devem passar pelos processos de auditoria independente justamente para assegurar a transparência fiscal e econômica do negócio. Nutrir a confiabilidade dos stakeholders é o passo mais essencial para que os investidores continuem aplicando nas ações da companhia.  

Para que sua empresa não seja pega de surpresa com “inconsistências contábeis”, entre em contato com o time de especialistas em auditoria da Alianzo e tenha a segurança de profissionais altamente treinados em diversos segmentos! Tire suas dúvidas com nosso departamento de auditoria, estamos prontos para te ajudar. 

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